Quem, o céu profundo,
Já primeiro me mostrou
E, mansamente, me ensinou
As tarefas deste mundo;
Quem foi que mais no fundo
Do coração me plantou?
Quem, um amor tão doce,
Semeou com tanta calma;
Quem foi que na palma
Da mão sempre me trouxe,
Assim como se eu fosse
O seio da própria alma?
Quem, minha dor primeira,
Num só gesto aliviou;
Quem primeiro acariciou
A minha face inteira;
Quem foi a pioneira
Que primeiro me beijou?
Quem, nas noites sombrias,
O meu medo dissipava
E meu sono acalentava
Durante os longos dias;
Quem, nas manhãs frias,
docemente me embalava?
Quem ainda me beijava o rosto,
Quando eu, já menino crescido,
Levantava entristecido
E brincava ao sol posto;
Quem sentia tanto gosto
E me tinha tão querido?
Quem, como um jasmin,
Colhido do universo,
Me criou sempre no berço
De uma bondade sem fim;
Quem rezou por mim
As longas contas de um terço?
Quem, meus membros lassos,
Sustentou com humildade;
E pelos caminhos da bondade,
Quem levou-me nos braços;
Quem guiou meus passos
E me ensinou a verdade?
Quem, o certo e o errado,
Me ensinou com devoção;
Quem educou meu coração
Com muito amor e cuidado;
Quem foi o vulto amado
Da minha vida a razão?
Só tu, minha mãe amada,
Com teu manto divino,
Protegeste teu menino
Nesta dura caminhada;
Tu foste o sol da minha estrada
E a luz do meu destino.
Só tu, minha mãe querida,
Ouviste a dor do meu lamento
E aliviaste meu sofrimento
Na longa busca empreendida;
Tu foste a seiva da minha vida
E a paz do meu pensamento!
São Paulo, 10/06/1975
José Anunciado Arantes
Enviado por José Anunciado Arantes em 13/05/2012
Alterado em 02/08/2021