Nunca fui muito gordo, aliás, nunca fui nada gordo, pelo contrário, sempre fui magro, muito magro. E quando fumava, vício que cultivei e que me consumiu por uns 20 anos, era magérrimo. Aos 40 anos, com 1,73 de altura, pesava apenas 52 kgs. IMC de 17,3, olha só!
Colecionava apelidos: Magrão, Magriça, Magrelo, Fininho, Gordurinha, Pau-de-virar-tripa, Filé-de-borboleta, etc. E as piadinhas? Sempre as mesmas: "O pijama do Zé só tem uma lista", "Quando tá de frente, parece que tá de lado; quando tá de lado, parece que foi embora", "Deita na agulha e se cobre com a linha", "Se subir na balança, fica devendo", e por ai ia.
Aos 40 anos, mais precisamente, no dia 30 de julho de 1990, às 12h40, exalei as últimas tragadas de um cigarro Free. Um dos 60, 70 que fumava diariamente.
Sem a nicotina no organismo, o apetite melhorou e, embora sempre tenha sido bom de garfo, passei a comer mais ainda e logo ultrapassei pela primeira vez e para meu espanto, a barreira dos 60 kgs. E ai foi, 61, 63, 65... Opa, alerta! Tinha que fazer alguma coisa.
Como sempre gostei de andar muito, passei a caminhar 2, 3 vezes por semana, e, às vezes, aos sábados e domingos, dava 20 voltas no campo, trotando bem leve. Depois passei a correr na rua. Saía de casa, corria 1000, 1200 mts e o gás acabava, daí andava mais uns 2 kms e corria mais 1,5 km até chegar em casa novamente. Assim foi por alguns anos, até que em abril de 2006 fui convidado pelos amigos Lívia e Amaury Piquera para participar da minha primeira corrida competitiva. Nunca me esqueço, era a 7ª meia maratona e 6km da Corpore. O título era pomposo: "Running with the bulls". Eu e a Lívia faríamos os 6kms e o Piquera (Amaury), os 21,1 kms (Meia maratona!).
Completei os 6kms em 38m16. A alegria e a emoção de cruzar o portal de chegada e receber a medalha de participação eram tão grandes que eu não me cabia dentro de mim. Depois fomos esperar o Piquera que completou seu percurso em 2h07m02. Pensei: Puxa vida! será que algum dia vou conseguir correr 21kms?
Desde aquele não tão longínquo 9/4/2006 não parei mais. E ainda hoje, 168 provas, 1.782 kms depois, a emoção da chegada ainda é a mesma. A corrida me lembra uma velha piada de um louco que estava martelando o dedo e, ao ser interrogado se não doía, disse: "Dói um pouquinho, mas quando eu paro é tão gostoso!".
Ah! Comparado aos 40 anos, hoje, 22 anos depois, estabilizei "bem gordinho" nos 70kgs.