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José Anunciado Arantes
Quando o destino escreve, não há borracha que apague!
Textos
CHUVA


     Dona Ocirema do alto dos seus 87 anos era uma trabalhadora incansável. Mais conhecida na vizinhança como dona ema, muitos nem sabiam seu verdadeiro nome. A origem dizia ela era obra de seu pai que ansioso por um menino já havia até batizado o varãozinho de Américo, homenagem, teria dito ele a ela, a Américo pisca-pisca, da famosa obra de Monteiro Lobato, o Reformador do mundo, que alguém teria lido para ele quando criança. Mas ao invés do menino teria vindo uma menina. o pai homem modesto mas muito esperto não praguejou nem lamentou, apenas, ainda segundo ele, teria dado uma pitada no cigarrinho de palha, uma cuspidinha no chão de praxe e teve a brilhante ideia de inverter o Américo e assim continuaria homenageando o pisca-pisca.

     Ema, vamos seguir a maioria, estava desanimada, desacorçoada nas palavras dela, com a tal crise hídrica, que ela chamava de crise hidráulica. Essa falta de água constante a irritava. E guarda água da chuva! chuva? mas que chuva, cadê chuva??? era um tal de economizar água, banho de 5 minutos, guardar água da pia para usar no vaso; guardar água da máquina pra lavar o quintal e outras mandrakarias. mesmo assim a TV anunciava: o nível da represa está caindo, 20, 18, 17, 15, 14%. Dona Ema não aguentava mais. E chuva mesmo nada, nenhuma gota, 40, 50 dias sem chuva! e ninguém colaborava com a economia. ela saía no portão e via um vizinho lavando a calçada com mangueira, olhava para o outro lado e via outro vizinho lavando o carro... Ara, pensava ela, ninguém tem consciência!!! - Ah! fosse eu o criador, fazia chover todo dia das 3 às 5 da manhã, pra nenhuma planta perder a cor, pra nenhum animal morrer de sede e pra nenhuma velha como eu ficar carregando vasilhas de água por aí afora.

     EPA! Seria o espírito de Américo pisca-pisca falando por Ocirema??!! Enquanto dona Ema pensava e confabulava com seus botões, umas nuvens começaram a ficar carregadas no céu e quando Ema menos percebeu, CABRUMMMMM!!! CABRUMMMMM!!! Relâmpagos, trovões??? Teria São Pedro ouvido suas preces??? Não é que era? lá vinha ela, a   C H U V A ... O céu pretejou, o dia se afastou, o vento soprou forte... e a água desceu. dona Ema enlouqueceu, correu pro quintal, gritava, cantava, rezava, pulava, ajoelhava, agradecia... pegou uma vassoura e começou a dançar, e a água caia, caia, caia. De repente, um pé de vento mais assanhado, atrevidamente levou o vestido de dona Ema. Ela desesperada saiu correndo atrás do vestido que o vento matreiramente carregava, e saiu pela rua, seminua, com uma vassoura na mão, encharcada dos pés à cabeça. A vizinhança correu pra rua, a garotada fez a festa e a notícia correu o bairro mais veloz que o vento. A dona Ema ficou louca, gritavam todos. Chamaram a ambulância e velhota foi parar no hospital. Diagnóstico? princípio de pneumonia. Hum!! nessa idade?! interna, manda o doutor.

Tsc tsc tsc... tanta chuva, tanta festa, tanta água lá fora e dona Ema tomando Soro. pobre Ocirema.





09/09/2015

 
José Anunciado Arantes
Enviado por José Anunciado Arantes em 16/11/2016
Alterado em 07/10/2019
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